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O judaísmo em Curitiba: a Sinagoga Francisco Frischmann


História e aspectos religiosos do judaísmo


Fundado por volta do século XVIII a.C. pelos personagens bíblicos Abraão, Isaac e Jacó, o judaísmo considera Deus como criador do mundo. Segundo a tradição, Deus teria se aliado ao povo hebreu, especificamente a Abraão, e estendido esse pacto aos seus descendentes Isaac e Jacó, para quem seria destinada a Terra Prometida (Canaã). Expulsos deste local, os hebreus foram então escravizados no Egito por um longo período, até aparecer Moisés.


De acordo com as escrituras, Deus o teria ordenado para retomar o território sagrado, e exposto a ele, no Monte Sinai, leis escritas e orais que deveriam orientar o seu povo, o hebraico. Chegando em Canaã, Moises reconquistou o território e instituiu o Reino de Judá, nome em referência a Jacó (até então conhecidos como hebreus, aqueles que professavam essa religião foram chamados, ainda nessa época, de judeus, que significa filho de Jacó). Nele, as leis recebidas foram transcritas e agrupas em pergaminhos, e nomeadas de Torá, a bíblia dos judeus, que até hoje servem de base para aqueles que professam o culto judaico, pois são percebidas como mandamentos divinos. 

CARACTERÍSTICAS


A religião judaica é monoteísta, cuja origem remonta ao Oriente Médio há cerca de 3.800 anos, aspecto que a torna, portanto, a primeira a defender um Deus uno. Conhecida por influenciar em grande medida o cristianismo e o islamismo, o judaísmo possui, atualmente, mais de 14 milhões de adeptos, que se distribuem em 3 grupos distintos:


  • existem aqueles que, de fato, professam o culto judaico;
  • outros que, além de professar, encaram o judaísmo como um modo de vida
  • e há, também, aqueles que não se consideram judeus pela religião, mas por fazer parte de um mesmo povo, o judeu ou o israelita, isto é, percebem o judaísmo como uma nacionalidade do Estado de Israel. 

Para aqueles que professam a fé judaica, o seu local de culto é a sinagoga (que significa assembleia ou casa de reunião). Nela, geralmente os encontros são presididos por uma rabino, embora essa não seja uma condição para as cerimônias. Além disso, mesmo que um templo judaico não seja destinado somente à atividade litúrgica, ele é conhecido, principalmente, por sediar as leituras da Torá, cujas partes são dispostas em rolos na Aron Kodesh (arca sagrada ou palácio), um receptáculo colocado na parede que está na direção de Jerusalém.


Também, os judeus são caracterizados por alguns hábitos culturais, como a rejeição de veneração de ícones, a impossibilidade de conversão, o uso do kipá (um tipo de chapéu que demarca o temor a Deus), a manutenção de franjas (tzitzit) e o ato de circuncisão (obrigatório aos homens). Apesar desses traços próprios, atualmente são grupos específicos do judaísmo, os mais conservadores e ortodoxos, que seguem rigidamente a estas práticas, que são definidas pela Torá.


Ademais, o judaísmo tem um calendário próprio (luach), o judaico. De acordo com a tradição, ele foi feito paralelamente à criação do Mundo, sendo de caráter lunissolar, ou seja, seus meses seguem as fases da lua – começam a cada lua nova –, embora haja ajustes de acordo com as estações do ano, regidas pelo sol. No total, são 12 meses que têm entre 29 e 30 dias. Portanto, cada ano judaico é 11 dias mais curto do que o ano do calendário gregoriano (solar). Para ajustar essa diferença, foram criados anos bissextos, quando ocorre a adição de um mês. No calendário judaico, existem sete anos bissextos a cada 19 anos. Em setembro de 2020, inclusive, os judeus comemoraram o ano 5781, as comemorações de ano novo geralmente ocorrem nesse mês. 

A Sinagoga Francisco Frischmann em Curitiba: de espaço religioso à batalhão policial


Este local sagrado foi um dos principais pontos de encontro da comunidade judaica em Curitiba, projetado em 1959 e inaugurado no ano seguinte. A Sinagoga foi construída em um terreno que já pertencia ao Centro Israelita do Paraná desde 1922, no Centro. Antes da construção, porém, a Sinagoga funcionava dentro do CIP, na Rua Cruz Machado. Com o aumento da comunidade, entretanto, necessitou-se de um local maior, e então a diretoria decidiu construir uma nova Sinagoga, na década de 50.


Desenhada por Romeu Paulo da Costa, a Sinagoga recebeu o nome daquele a construiu, o sr. Francisco Frischmann, membro da comunidade judaica de Curitiba. Este espaço foi amplamente utilizado até o início dos anos 2000, quando boa parte dos judeus já não morava mais na região do Centro. Por isso, os cultos religiosos eram cada vez menos frequentes na Sinagoga, até que, por motivos de segurança, ela deixou de ser utilizada.

 

Mesmo sendo considerada uma UIP – Unidade de Interesse de Preservação, o prédio da antiga Sinagoga Frischmann sofria com maus cuidados. A saída encontrada pela prefeitura, então, foi destiná-lo à Polícia Militar, que desde 2017 estabelece ali o seu 12º Batalhão.


Hoje, aqueles que querem conhecer a Sinagoga de Curitiba (que festeja neste mês de Setembro mais um ano do calendário judaico) devem ir até o Bom Retiro, onde, em anexo ao Museu do Holocausto, existe uma Sinagoga novinha em folha. No prédio da Saldanha Marinho, porém, nada mais resta para lembrar desse passado judaico da capital do Paraná.


***


Falar sobre as diferentes manifestações religiosas de Curitiba é culto ao respeito que deixa uma mensagem clara de reconhecimento e admiração por todas as culturas que fazem parte dessa cidade e, de alguma maneira, ajudaram a escrever a história dessa cidade tão diversa.


Texto e pesquisa: Gustavo Pitz

Para citar: PITZ, Gustavo. "Imigração árabe em Curitiba: entre o esquecimento e o pertencimento". Turistória, Curitiba, 2020.  Disponível em: <https://www.turistoria.com.br/o-judaismo-em-curitiba-a-sinagoga-francisco-frischmann>.

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