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O Partido Nazista no Paraná

“O Brasil representou a primeira e a maior seção fora da Alemanha, algo em torno de 2.900 filiados”

 

Esse dado levantado pelo historiador Rafael Athaides salta aos olhos. A partir dele, pode-se dizer, tristemente, que o Brasil foi um celeiro de nazistas e, nesse cenário, o Paraná contribuiu muito.

 

Mas quem eram os nazistas paranaenses? 



O contexto de criação dos partidos nazistas no Brasil

 


Adolf Hitler era enfático: “o nazismo não é uma mercadoria exportável”. Ou seja, não era objetivo do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães [1] (partido de extrema-direita, importante frisar), os nazis, criarem núcleos fora da Alemanha para conquistar o poder nesses países. O intuito era fazer da Alemanha uma potência imperialista, para ela própria dominar os demais territórios. Nos planos de Adolf Hitler, inclusive, a América Latina nem mesmo era citada.

 

[1] Nazional Sozialistische Deutsche Arbeiter Partei (NSDAP)

 

Para muitos pesquisadores, a fundação do Partido Nazista no Brasil ocorreu em 1928, na cidade de Timbó, Santa Catarina. Entretanto, ressalta Rafael Athaides, os primeiros núcleos do partido se localizaram no Rio de Janeiro e Porto Alegre, e depois se estenderam a São Paulo, São Francisco, Porto União, Joinville e Salvador. Eram organizações autônomas entre si, e que se reportavam diretamente ao NSDAP (sigla do partido em alemão) da Alemanha, pelo menos até a inauguração da representação nazista nacional, em 1934.

 

No Paraná, um círculo (sede) do Partido foi fundado em janeiro de 1933, embora ele tenha se oficializado em abril daquele ano, quando se vinculou ao partido de São Paulo. Em 20 de abril, data escolhida por ser aniversário de Adolf Hitler (que chegara ao poder alemão em 1933), o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães do Paraná tornaria públicas as suas atividades.

 

O idealizador e primeiro diretor estadual foi Werner Heinrich Wilhelm Hoffmann, que nasceu na Alemanha em 21 de abril de 1909, e emigrou ao Brasil em 1932, para então assumir um cargo no Consulado Alemão de Curitiba no ano seguinte.



O desenvolvimento do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães do Paraná

 


Inicialmente, o Partido estadual não contava com 10 filiados. Suas atividades eram realizadas numa sede temporária, chamada “parque Cruzeiro”, no Batel. Depois, foi alugada uma sede que se tornou permanente, um palacete de colunas gregas na Avenida Anita Garibaldi, número 351 (anexo à Fábrica Lucinda), chamado de “Gustloff-Haus”. Hoje, na região está construído um edifício residencial.

 

Ideologicamente, “o nazismo partiu dos alemães e era, portanto, para os alemães, mesmo se estes se encontrassem fora da VaterLand [Alemanha]”, ressalta Athaides. Nesse sentido, só era permitida a filiação de alemães natos ou, no máximo, descendentes da primeira geração nascidos no Brasil (geralmente naturalizados alemães). No auge do partido no Paraná, que contou com 192 filiados (94 em Curitiba), a maioria (81,3%) era composta por alemães natos.

 

Outras cidades do Paranã também fundaram núcleos nazistas, como Rio Negro, Ponta Grossa e União da Vitória, mas o partido se desenvolveu mesmo nos maiores centros urbanos, seguindo uma tendência nacional. São Paulo e Santa Catarina foram os estados com maior número de filiados, com 785 e 528, respectivamente. No Rio de Janeiro, foram registrados 447, no Rio Grande do Sul, 439, e no Paraná, o quinto maior em números, 192.

 

Por isso, a maioria dos militantes nazistas era relacionada ao comércio, à indústria e à prestação de serviços, ou seja, estava ligada a atividades urbanas. Eles eram operários, grandes comerciantes, e, em menor número, agricultores e industriais com nível superior. Sobretudo, eram “jovens entre 25 e 35 anos, nascidos na Alemanha, cujas famílias experimentaram de alguma forma a Primeira Guerra Mundial”, antes de emigrarem ao Brasil. Assim, guardavam um forte sentimento nacionalista e revanchista.

 

Por isso, é importante destacar: “alemães identificados como defensores cônscios da causa nazista não pertenciam a grupos colonizadores rurais”.



Objetivos e atividades do partido

 

Embora seja possível que os partidos nazistas quisessem formar um “exército de reserva” para o caso de um conflito, o mais provável é que eles tenham sido criados para fortalecer a ideologia nazista entre os alemães emigrados, isto é, uma identidade germânica nacional-socialista (que definia quem eram os alemães nazistas, e também os que não eram). Como regra, não se podia participar de eleições, pois esse não era o intuito.

 

As atividades do Partido Nazista do Paraná (NSDAP) eram variadas. Havia festas e festivais, práticas esportivas e benemerentes, exercícios paramilitares, saudações hitleristas e cerimônias de juramento de fidelidade ao III Reich, além da propaganda que difundia os seus ideais.

 

O aumento do número de filiados ocorreu lentamente no Paraná. Em Curitiba, o auge de filiação só foi entre 1935 e 37, já que nesse período a projeção de Hitler foi meteórica. Uma das táticas para cooptar apoio dos alemães em Curitiba, por exemplo, foi a infiltração em sociedades e clubes germânicos há décadas já estabelecidos na capital.

 

Esse foi o caso, por exemplo, da União das Sociedades Alemãs do Paraná (Verband Deutscher Vereine). Ela abarcava os vários clubes, sociedades e outras entidades germânicas. Na década de 30, o partido conseguiu colocar Otto Braun, filiado ao partido que trabalhava no Consulado da Alemanha, em Curitiba, no mais alto posto da União.

 

Com essa influência, o Partido Nazista começou a promover eventos em três grandes clubes e sociedades: a “Handwerker Unterstützungs-Verein” (Sociedade Beneficente Operária), a “Teutobrasilianischer Turn-Verein” (Sociedade Teuto-Brasileira de Ginástica) e a “Verein Deutscher Saengerbung” (União dos Cantores Alemães). Após 1938, elas passaram a se chamar, respectivamente, “Sociedade Rio Branco”, “Sociedade Duque de Caxias” e “Clube Concordia”. Além delas, havia mais 20 entidades ligadas a União.


A influência nos clubes germânicos

 

Na Sociedade Beneficente Operária, uma da ações mais conhecidas foi a celebração da festa do primeiro de maio, em 1934. Já na União dos Cantores Alemães, a “Verein Deutscher Saengerbunde", houve outros tantos casos. Fundada em 1884, após a junção dos clubes germânicos "Germânia” e "Concórdia", a instituição tinha como intuito cultivar a música alemã masculina e a leitura. Em 1937, ela conquistara 650 sócios.

 

Com o controle da União das Sociedades Alemãs do Paraná, no "Verein Deutscher Saengerbunde” o Partido Nazista fazia convocações para donativos e festas, além de cerimônias propagandísticas, com o fito de atrair filiados. Assim, até hoje existe a pecha de que o Clube Concordia foi um clube nazista, mas a ideia é equivocada, pois os eventos organizados na instituição foram impostos por alguns dirigentes nazistas.

 

O que mais se viu, inclusive, foi a resistência da maioria dos descentes alemães dos clubes à invasão nazista. O caso mais latente foi na Sociedade Duque de Caxias, cujos sócios se opuseram às investidas do partido. O próprio Hoffman, líder do Partido no Paraná, ressaltou:

 

“aqui no Paraná sempre há estes atritos – brigas, desavenças entre

nazistas e anti-nazistas – que se originaram em vista da ação necessária para

a manutenção da idéia alemã. Este problema não se conhece nos outros

Estados”

 

Conforme analisa Athaides, “a situação conflituosa também pode ser demonstrada pelos números. Se considerarmos a cifra mediana de 100.000 alemães residentes no Paraná (incluindo natos e descendentes) para o ano de 1934 (AULICH, 1953, p. 12), desconsiderando as elevações da segunda metade da década, podemos constatar que os teutos filiados ao partido correspondem a 0,18% do total de indivíduos de origem germânica no estado.”

 

Mas, mesmo com esse baixo engajamento, é fundamental ressaltar que os nazistas fizeram muito barulho. A Juventude Teuto-Brasileira (braço da Juventude Hitlerista), promovia frequentes desfiles nas ruas de Curitiba. Fardados com o uniforme nazista, seus integrantes organizavam acampamentos, exercícios de campo e excursões com jovens menores de dezoito anos. Depois de crescidos, eles entravam para o partido, quando não tentavam ingressar nas forças armadas alemãs.

 

Além disso, é fundamental destacar que algumas personalidades influentes do cenário curitibano aderiram à causa de Hitler, inclusive não-alemães. Por exemplo: Hans Bennewitz, diretor da companhia telefônica do Paraná, foi um grande financiador da propaganda nazista no Estado; do mesmo modo, Max Schrappe, proprietário da maior empresa gráfica do Paraná na época, a Impressora Paranaense Ltda., também atuou firmemente na campanha.

 

Schrappe, inclusive, era contratado do Consulado Alemão, que desde a chegada de Hitler ao poder ostentava diplomatas nazistas (e uma bandeira com a suástica em sua sede, o prédio Moreira Garcez)



A Campanha de Nacionalização de Getúlio Vargas e o rompimento diplomático com a Alemanha

 

No Estado Novo, Vargas iniciou um “empreendimento de brasilidade” que resultou na Campanha de Nacionalização. Com ela, o português foi instituído como língua oficial, sendo as demais proibidas. Além disso, qualquer outra manifestação cultural que não a considerada brasileira foi reprimida, quando não nacionalizada.

 

Esse foi o caso dos clubes e sociedades germânicas, como o Concordia, que passou a ter este nome em 1938, já que originalmente possuía nome em alemão (até o final da guerra, inclusive, o Clube Athletico Paranaense administrou o Concórdia, já que ele foi fechado pelo governo Vargas para se tornar um hospital). Nesse cenário, o Partido Nazista Brasileiro e a Juventude Teuto-brasileira foram postos na ilegalidade.

 

Segundo Athaides, “o nazismo (ideologia), abraçado por uma minoria, era visto como uma manifestação de estrangeirismo e por isso deveria ser reprimido. Não se constituía ainda um inimigo de guerra ou inimigo ideológico”, já que Vargas era amigável à causa fascista.

 

Quando o Brasil entrou na Guerra e declarou a Alemanha inimiga, após o atentado de Hitler à marinha brasileira, a repressão se tornou uma verdadeira “caça às bruxas”. Qualquer alemão ou descendente, fosse ou não nazista, era declaradamente inimigo da nação.

 


Repressão à sociedade germânica no Paraná

 


Assim, através da atuação do Departamento de Ordem Política e Social, milhares de germânicos foram investigados, detidos e reprimidos pelo simples fato de serem alemães, mesmo os não-nazistas. Esse foi o caso, por exemplo, do geógrafo Reinhard Maack. Quanto aos nazistas, alguns foram presos, outros mandados a campos de trabalho e uma minoria foi deportada.

 

De toda forma, embora tenha acabado com as instituições nazistas no Brasil, a Campanha de Nacionalização colocou num mesmo balaio nazistas e não-nazistas. Por conta disso, a xenofobia contra alemães e descendentes foi grande, sentimento de repulsa que também sofreu os japoneses e, em menor grau, os italianos.

 

Em 1942, sem qualquer distinção, alemães recém-chegados ou brasileiros já de quarta geração tinham suas moradias invadidas, suas oficinas ou casas comerciais destruídas e suas sociedades depredadas.

 

Entre os locais atingidos estavam o Clube Rio Branco, a Cia. Telefônica Paranaense, a Impressora Paranaense de Max Schrappe e até mesmo o Clube Concordia, duramente depredado.

 


Texto e pesquisa: Gustavo Pitz


Fontes:


ATHAIDES, Rafael . O Partido Nazista no Paraná (1933-1942). 1. ed. Maringá: EDUEM, 2011.


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