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Palácio Rio Branco: uma das sedes do poder na Barão do Rio Branco

No presente texto falaremos sobre o Palácio Rio Branco, prédio que atualmente abriga a Câmara dos Vereadores de Curitiba, mas que não foi projetado para esta função.


Sua inauguração data da década de 1890: o contexto era o de uma República recém proclamada que precisava afirmar seu poder - o que foi feito também através da arquitetura e do planejamento urbano. Buscava-se a modernização da paisagem urbana, para trazer à cidade a “ordem” e o “progresso” - ideais estampados em nossa bandeira nacional, que tem origem nessa época. Também havia um incentivo oficial à imigração europeia ao Brasil, de modo a suprir a mão de obra no pós-abolição da escravatura e também “embranquecer” a população, no contexto da proliferação de ideais higienistas.


A Rua da Liberdade (atual Barão do Rio Branco, onde fica o Palácio) foi uma das maiores testemunhas desse processo. Alguns anos antes, em 1885, ali foi inaugurada a Estação Ferroviária, onde os visitantes desembarcavam do veículo que simbolizava o progresso e a civilização - o trem. A estação ficava em frente à Praça Eufrásio Correia. Na mesma quadra da Praça, foi construído o Palácio do Congresso, com o objetivo de abrigar a Assembleia Legislativa do Estado.


Além disso, a sede anterior da assembleia - casa do Comendador Manoel de Moraes Roseira, na Rua da Assembleia (atual Doutor Muricy) - se encontrava também em estado precário, fazendo-se necessária uma reforma ou uma mudança de sede, como aconteceu.


Quem o construiu?


O engenheiro encarregado da construção do palácio foi Ernesto Guaita, um imigrante italiano nascido em Turim em 4 de fevereiro de 1843.

Guaita chegou ao Brasil na década de 1870 e passou a residir em Curitiba em 1875, onde se dedicou a trabalhos topográficos até ser contratado como engenheiro da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. Em 1882, pediu demissão da Companhia e montou seu escritório de engenharia e projetos, junto com Ludovico Taddei.


Foi coautor do projeto do Palácio da Liberdade (sede do governo do Estado de 1890 a 1938 e que hoje abriga o Museu da Imagem e do Som), também localizado na Rua Barão do Rio Branco. Trabalhou como engenheiro de obras para a câmara dos vereadores de Curitiba e neste posto teve participação ativa em algumas das mais importantes construções da cidade, como o Palácio do Congresso - a pedido do presidente Generoso Marques. A partir daí, passou a ser o engenheiro mais solicitado da cidade, tanto para construções comerciais quanto residenciais.


Algumas das outras importantes edificações que Guaita projetou foram: o sobrado onde hoje está a loja Torra (praça Generoso Marques), a sede da Sociedade Garibaldi e o sobrado do antigo Departamento Estadual de Compras. Não se tem a data exata, mas Guaita provavelmente morreu em torno de 1914/1915.


Esse próprio fato - o de o prédio do palácio ter sido construído por Guaita, um italiano que aqui se estabeleceu - também reflete o contexto da época: o da chegada de imigrantes ao Sul do Brasil.


Construção do Palácio


Não há uma data precisa e unânime acerca da inauguração do Palácio do Congresso. Um dos possíveis motivos para isso é a instabilidade política do período, o que fez com que a transição da Assembleia Legislativa para o novo prédio fosse conturbada. Na última década do século XIX, por exemplo, houve um período em que as Assembleias Legislativas estaduais foram dissolvidas por Floriano Peixoto (1891). Houve também a Revolução Federalista (1893-1895), quando maragatos revoltosos tomaram a cidade de Curitiba, o que fez com que as obras do Palácio fossem interrompidas por um período. 


O contrato para a execução da obra foi assinado em 6 de maio de 1891 e a obra foi concluída entre 1895 e 1896. No entanto, antes mesmo da conclusão da obra, entre os anos de 1891 e 1896, há registros do prédio sendo utilizado, como menções às despesas de conservação do Palácio.


Assim é descrita a arquitetura do edifício por Suzelle Rizzi em sua dissertação de mestrado “Cândido de Abreu e a arquitetura de Curitiba entre 1897 e 1916” (p. 19):


O palácio do Congresso conhecido como palácio Rio Branco, foi projetado por Ernesto Guaita num ecletismo de base clássica, com jardim ao redor da edificação, escadaria separada da rua, gradil de ferro artístico, peristilo aberto e arcadas sobre colunas de ordem coríntia. O edifício monumental e simétrico destaca-se pela escadaria externa, pelo recuo do terreno em frente a entrada e pelas varandas laterais. A linguagem do classicismo é expressa por capitéis coríntios, cornijas, requadros e sobrevergas ressaltadas em massa sobre os parâmetros das paredes.

As primeiras reformas ocorreram na virada do século. Em 1900 foi construído um puxado para abrigar as latrinas, que foram retiradas do interior do edifício por não oferecerem condições adequadas de comodidade e asseio. Em 1909, a lei nº 976, referente ao orçamento de 1910-1911, determinou despesas para a construção de um apêndice ao prédio que comportasse um gabinete para o Presidente, uma sala para comissões e mais dependências.


Em julho de 1913 houve uma explosão na Estação Ferroviária que causou danos ao edifício, que precisou de reparos. Durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, a Assembleia Legislativa foi fechada e o prédio foi ocupado pelo Conselho Deliberativo do Estado.


Muitas décadas depois, em 1957, a Assembleia Legislativa deixou de funcionar no Palácio Rio Branco, passando para sua sede atual no Centro Cívico. O contexto era o de um novo planejamento urbano da cidade de Curitiba, o que incluía a centralização dos espaços dos poderes legislativo, executivo e judiciário em uma região específica -  hoje conhecida como Centro Cívico.


Nem tudo do “poder”, no entanto, foi para lá. O palácio do Congresso, por exemplo, passou a ser sede da Câmara dos Vereadores de Curitiba em 1963, que lá permanece até hoje. Foi nesse período, inclusive, que o palácio passou a ser chamado de “Palácio Rio Branco”. Em julho de 1977, iniciaram-se as obras de sua restauração, que ficaram concluídas em agosto de 1978. Em 14 de setembro do mesmo ano, o prédio foi reinaugurado. O projeto e a orientação técnica das obras de restauro ficaram a cargo de Cyro Corrêa de Oliveira Lyra e José La Pastina Filho; a restauração da pintura interna teve a orientação técnica de Maria Ester Teixeira Cruz.


Em 1992, o prédio passou por outra reforma e em 2010 houve a mais recente, ficando fechado até 2014, quando foi reinaugurado.


Ao longo de mais de cem anos, o Palácio Rio Branco foi palco dos mais diversos acontecimentos, votações e discussões políticas, tanto do estado do Paraná quanto da cidade de Curitiba. Por sua importância histórica e arquitetônica, é tombado como uma UIP (Unidade de Interesse e Preservação) e também como Patrimônio Cultural, em nível estadual.

Texto e pesquisa: Gabriel Brum Perin


Fontes de pesquisa:


https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/a-historia-da-construcao-do-palacio-rio-branco-1


https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/palacio-rio-branco-a-visao-do-engenheiro-ernesto-guaita


https://arquivoarquitetura.com/159


https://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/sites/patrimonio-cultural/arquivos_restritos/files/documento/2022-01/ctb4.pdf


https://pergamum.curitiba.pr.gov.br/vinculos/monogr/Texto/sutil_eixo_barao.pdf


https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/nossa-memoria/palacio-rio-branco


https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/palacio-rio-branco-sera-reinaugurado-nesta-quinta-feira


https://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/Curitiba


https://www.facebook.com/groups/417557358409468/permalink/1224505784381284


RIZZI, Suzelle.
Cândido de Abreu e a arquitetura de Curitiba entre 1897 e 1916. Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Teoria, História e Crítica da Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Pontífice Universidade Católica do Paraná. Curitiba, 2003, 186 p. Disponível em:  https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/14304/000423389.pdf?sequence=1&isAllowed=y


BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMARIO MARTINS. O Palácio do Congresso, Câmara Municipal de Curitiba: histórico e restauração. Local e Editor: Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba Data: 1978 Vol./Nr/Pg. Artigo: v.4, n.23 Paginação total: 12 p.


BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMARIO MARTINS. Rua da Liberdade Local e Editor: Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba Data: 1981, jun. Autor do Artigo: MACEDO, Rafael Greca de; NASCIMENTO, Mai Vol./Nr/Pg. Artigo: v.8, n.54 Paginação total: 38 p.



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