Há quem diga que já que eram pouquíssimos os escravizados, a presença deles mal foi sentida na formação cultural de Curitiba. Essa foi uma visão predominante para os intelectuais do século XIX e até meados do XX. Não faz 70 anos que o historiador Wilson Martins disse: “não houve escravatura no Paraná”. Pois bem, se comparada aos números da Província de São Paulo e do Rio de Janeiro no século XIX, a população negra era realmente pequena no Paraná e em Curitiba. Esse dado, porém, deve ser analisado a partir dos parâmetros locais. Quando se tem essa comparação, a escravidão na capital paranaense é mais do que marcante.
A população começou a ser efetivamente contabilizada a partir de 1800. Nessa época, em 1817, Curitiba tinha cerca de 10.000 habitantes, sendo 200 deles oficialmente escravizados. Essa proporção aumentou até o final da escravidão: na década de 1870, quando os habitantes não passavam de 12 mil, o número de escravos era de 2597. Ou seja, pouco mais de 20% das pessoas eram africanas e seus descendentes, não-livres. Isso contando só os cativos. Deve-se lembrar que, além desses 20%, também havia negros livres: alforriados (compravam ou ganhavam a sua liberdade), descendentes e filhos de portugueses com escravizados. Ou seja, a população negra certamente passava de 2597, não se restringindo, portanto, aos escravos.
O relato produzido pelo médico alemão Robert Christian Barthold Avé-Lallemant sobre sua passagem por Curitiba, em 1858, simboliza essa diversidade populacional.
“Quanto ao que se vê na população, parece ser bastante mestiçada e em toda parte aparecem linhas nítidas de genealogia indígena e africana na multidão, se se pode chamar de multidão os poucos milhares de habitantes de Curitiba.”